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Tudo começa no ovário, que é uma massa em ebulição lenta e constante.
Dentro dele formam-se continuamente bolhas - os folículos dentro das quais
amadurecem uns caroçinhos chamados oócitos (oo = ovo; cito = célula), que ao se
desenvolverem transformam-se em óvulos. Folículo e oócito crescem lentamente, o
primeiro um pouco mais depressa. Quando alcança o dobro de seu volume primitivo,
o oócito começa a apresentar uma membrana espessa e elástica, chamada
zona pelúcida. O folículo que circunda o oócito cresce também e se
aproxima da superfície do ovário, já então com o nome de folículo de Graaf. E o
oócito dentro dele passa a chamar-se óvulo. Finalmente, como uma bolha pastosa,
o folículo se rompe na superfície do ovário (mas não estoura) e
libera o óvulo na cavidade
abdominal
(ovulação). O óvulo vagueia livre, circundado por material folicular que o
acompanha e envolve como um chumaço: a
coroa radiada,
formada por uma aglomeração de pequeninas
células).
Durante o período imediatamente anterior à liberação
do óvulo, ocorre uma lenta aproximação mútua do pavilhão da trompa e do ovário.
Segundo parece, os dois órgãos tentam encurtar a distância espacial a ser
percorrida pelo óvulo, no trajeto ovário-trompa. Simultaneamente, a trompa
começa a exercer movimentos que a percorrem toda, em ondulações rítmicas, no
sentido pavilhão-útero. Mas o fator mais importante na captação e movimentação
do óvulo provém dos movimentos ondulatórios dos cílios que forram o interior da
trompa. Daí resulta a movimentação dos líqüidos abdominais, numa corrente
dirigida para a cavidade uterina. A trompa atua como um exaustor e tenta aspirar
o óvulo, que não é dotado de movimento próprio. Com toda essa cooperação motora
e orientadora, ainda assim o óvulo de vez em quando se perde e fica vagueando
pela cavidade abdominal, onde, em casos raros, pode ser fecundado. Além disso,
sabe-se que se uma mulher for dotada apenas do ovário esquerdo e trompa da
direita, ou vice-versa, o óvulo contornará misteriosamente o útero, para
penetrar na trompa do lado oposto. Os ovários em geral produzem óvulos
alternadamente, mas nem sempre. E se um dos ovários for extirpado, a mulher
continuará a menstruar todo mês, porque o ovário remanescente assumirá as
funções do outro.
O ESPERMATOZÓIDE - Quando no orgasmo
sobrevêm a ejaculação, o homem inocula na mulher de 2 a 5 centímetros
cúbicos de esperma. Cada centímetro cúbico contém aproximadamente de 100 a 200
milhões de espermatozóides, às vezes mais, e cada espermatozóide mede em torno de 2,7 milésimos de milímetro.
Ejaculados na vagina, lago seminal e alguns diretamente no canal do colo do
útero, dezenas ou centenas de milhões de espermatozóides procuram sair do
inóspito meio ácido da vagina, em rápidos movimentos ondulatórios de sua longa
cauda. É a maior competição natatória do mundo. À velocidade média de 2 a 3
milímetros por minuto, os espermatozóides nadam até o colo do útero, transpõem o
canal cervical, penetram no útero, nadam pelos líqüidos da parede uterina até a
entrada da trompa e atravessam-na quase toda para interceptar o óvulo no terço externo do conduto, ou
seja a região ampular, próxima do pavilhão da
trompa.
Todo o trajeto é feito em pouco mais de uma hora. Isso equivaleria ao esforço de
um nadador que percorresse 1800 metros por minuto, numa extensão comparável à da
travessia do Canal da Mancha. E de mergulho, porque os espermatozóides carregam
consigo o próprio oxigênio. E mais: contra a corrente, na maior parte do
trajeto.
Finalmente, atraídos por uma substância química que o
óvulo libera, poucos destes espermatozóides chegam até
ele,
pois durante o trajeto, alguns morrem por serem mais fracos, outros perdem-se e
muitos outros são mortos pelas células assassinas do sistemas imunológico da
mãe, cuja função é destruir qualquer corpo estranho existente em seu organismo.
Trabalhando em conjunto, os espermatozóides (alguns já dentro da zona pelúcida)
começam a secretar uma enzima, cujo o efeito é romper a membrana protetora do
óvulo, que se configura imenso: 85 mil vezes maior que
eles.
Após um árduo trabalho, apenas um espermatozóide penetra o
óvulo
(o processo de penetração leva cerca de 20 minutos) e neste exato momento, uma
contra-ordem elétrica se produz na membrana situada por baixo da zona pelúcida,
que se fecha, impedindo a entrada de qualquer outro. Os que ficaram encravados
na zona pelúcida ou na trompa, morrerão ao cabo de algumas horas. No momento da
penetração, a cabeça do espermatozóide mergulha no óvulo. Mas a cauda, aquele
precioso instrumento de locomoção, fica de fora. Já dentro do óvulo, a cabeça
aumenta em quatro vezes seu tamanho original, abre-se e libera o núcleo que traz
toda a bagagem genética do pai. Uma vez liberado, ele vai de encontro ao núcleo
do óvulo, que possui a bagagem genética da mãe. No momento do encontro, os dois
núcleos fundem-se e é produzido o amálgama cromossômico. O óvulo deixa de ser o
que era e passa a se chamar "ovo" ou "célula-ovo" e o núcleo do espermatozóide
deixa de existir. Podemos dizer que neste instante, nasce um novo
ser.
Uma das coisas mais importantes que acontece durante
a fusão dos núcleos é a definição do sexo deste novo ser. Tanto o núcleo do
óvulo como o núcleo do espermatozóide carregam no seu interior 23 cromossomos,
bastões microscópicos com todas as características biológicas.
Da fusão dos dois núcleos resultam 46
cromossomos,
dispostos em pares. Mas o último par é que irá definir o sexo do embrião: se for
XX será uma menina; se for XY, um menino. O núcleo do óvulo é sempre portador de
cromossomos X. Portanto, quem determina o sexo é o núcleo do espermatozóide: 50%
dos espermatozóides carrega, em seu núcleo, um cromossomo X, os outros 50%, um
Y. Assim, as chances de conceber uma menina ou um menino, são absolutamente
iguais.
A CAMINHO DO ÚTERO - Aproximadamente
vinte horas depois da fusão, ocorre a primeira divisão
celular
e a partir daí, a cada doze ou quinze horas, ocorre uma nova divisão. As células
vão se dividindo exponencialmente: serão quatro, depois oito, dezesseis, trinta e duas e assim por diante. Este
estágio é conhecido pelo nome de mórula. Enquanto ocorre essa divisão,
o
ovo caminha em direção ao útero guiado pelos cílios da
trompa.
Este tempo de percurso dentro da trompa é muito crítico, pois o novo ser, também
está exposto aos ataques do sistema imunológico da mãe. Pesquisas revelam que um
em cada três óvulos fecundados não evoluem para uma gravidez, isto é, ela não
pega e o ovo é espontaneamente expulso durante as duas primeiras semanas, antes
mesmo do atraso das regras. Inúmeras vezes isso passa despercebido para a
mulher. A menstruação ocorre, podendo atrasar alguns dias e costuma ser mais
abundante que o normal. Este abortamento natural poderia ser um mecanismo
natural de defesa da nossa espécie, para impedir nascimentos de crianças
prejudicadas por irregularidades na divisão celular, como por outros problemas
com o ovo.
NIDAÇÃO - Dias após a fusão, o ovo,
com as células ainda em multiplicação, faz sua descida ao útero e começa a procurar um lugar
para se fixar.
Nessa altura, um hormônio ovariano, a progesterona, já terá preparado o
endométrio para alimentar o ovo, mediante suprimento adicional de glicogênio e
outras substâncias nutritivas. Sem isso, dificilmente o embrião "vinga".
Acontece às vezes de o óvulo fecundado acomodar-se na mucosa da trompa, e não na
do útero. Ou mesmo, em casos raríssimos, em alças intestinais e outras mucosas.
São casos patológicos (gravidez ectópica), em geral muito graves, por ameaçarem
a vida da mãe. Normalmente, dentro do útero, o ovo se transforma numa bolha
sólida cheia de líqüido. Por dentro desse globo, num dos pólos, aglomera-se um
tipo especial de células, numa protuberância interna semelhante ao umbigo de uma
laranja-bahia (do tamanho de uma cabeça de fósforo, porém). O ovo agora se chama
blastocisto (blasto = que vai gerar algo; cisto = cavidade). Mais tarde, a
parede do blastocisto, chamada trofoblasto, irá dar origem à
placenta. A massa polar de células dará origem ao embrião.
Quando o blastocisto finalmente faz contato com o endométrio, as células do
trofoblasto atacam vigorosamente as células endometriais e as vão destruindo. Os
elementos constituintes das células do endométrio servem para alimentar o
blastocisto nesse estágio, que ataca tudo vorazmente, inclusive microscópicos
vasos capilares da região. E o sangue da mãe começa a alimentar o filho. O
blastocisto prossegue perfurando o endométrio, cava nele um verdadeiro ninho (de
onde o nome nidação para o processo). O rompimento dos vasos forma lagunas de
sangue que alimentam o blastocisto. O endométrio começa a transformar-se, num
processo que se irradia circularmente do ponto em que o trofoblasto ataca, em
geral a região mais alta do útero, mas nem
sempre.
Em torno do sétimo ao décimo dia após a fusão o
blastocisto fixa-se ao endométrio (momento culminante da nidação) e, finalmente,
entra em contato com a
mãe.
Após a fixação do blastocisto, começa a formar-se o
embrião,
que toma esse nome três semanas depois da fusão. O endométrio recobre o
blastocisto e forma em torno dele uma cápsula de tecido modificado. A
modificação do endométrio chama-se reação decidual, porque o tecido endometrial
se transforma em decídua ("que desce", ou cai), a ser expulsa no parto. A
cápsula vai crescendo, dentro do útero, com o embrião dentro dela. É importante
notar, portanto, que o embrião não se desenvolve dentro da cavidade normal do
útero, mas dentro de uma cápsula hermética que, ao crescer, acaba por ocupar
toda a cavidade uterina e dilatá-la. A razão disso é a necessidade de proteger o
embrião ou feto contra qualquer contato direto com o exterior. Isso não
aconteceria se o processo decorresse dentro da cavidade normal, que se comunica
com a vagina através do canal do colo do útero.
O endométrio transforma-se em três tipos de
decídua: a
parietal que é a que continua a revestir internamente o útero nas partes ainda
não atingidas pela cápsula onde se aloja o embrião; a decídua capsular, que
envolve a cápsula; e a decídua basal (de base), que fica por baixo dela. O
trofoblasto primitivo regride na decídua capsular e forma uma camada lisa por
baixo dela, o cório careca. Junto à decídua basal, o trofoblasto se transforma
em cório frondoso, de onde se originará a parte fetal da placenta. A decídua
basal, par baixo do cório frondoso, dará origem à parte materna da
placenta.
O
âmnio é uma cavidade que existe primitivamente junto ao dorso do embrião, por
baixo do trofoblasto. Ao crescer, acaba por envolver totalmente o embrião e,
quando adere ao cório careca, que o reveste, forma a parede do saco
córioamniótico, conhecido popularmente como bolsa d'água, que em geral se rompe
na iminência do parto. A cápsula recoberta pela decídua parietal vai crescendo e
ocupando uma porção cada vez maior da cavidade uterina, mas levará muitas
semanas até ocupá-la totalmente.
Um aspecto importante de todo o processo de nidação é
que o embrião está a salvo de contrações uterinas que poderiam resultar do
ataque ao endométrio. O que o protege contra os movimentos, que poderiam
expulsá-lo, é a ação da progesterona, secretada pelo corpo lúteo, a principio, e
pela placenta depois. A progesterona inibe a contração das fibras musculares
uterinas e contribui assim para maior segurança da
gravidez.
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